Muito além do Saci e Curupira: 9 contos desconhecidos do folclore brasileiro

O folclore que permeiam o território brasileiro é rico em simbolismo, pois busca explicar, por meio de alegorias, os acontecimentos da época.

Lendas como a do Saci, Curupira e Mula-sem-cabeça são apenas a ponta do iceberg do folclore brasileiro. O que poucos sabem é que as histórias que permeiam o território brasileiro são ricas em simbolismo, pois buscam explicar, por meio de alegorias, os acontecimentos da época.

Figuras que parecem fazer parte do universo lovecraftiano estão profundamente enraizadas em nossa cultura e vão muito além dos seres que foram infantilizados pela mídia brasileira. São inúmeras, capazes de arrepiar os pelos da nuca. Pensando nisso, o Primeira Página listou 9 lendas assustadoras do nosso folclore para você conhecer.

1 – Encourado, o vampiro brasileiro

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O encourado acaba sendo muito masi aterrorizante que o vampiro europeu. (Foto: JhonatanCNogueira98/Famdon)

O Encourado, uma versão brasileira de vampiro, é uma criatura muito mais grotesca e aterrorizante do que os vampiros clássicos europeus. Como o próprio nome sugere, ele usa roupas de couro e tem grandes asas de morcego.

Esse ser é comum no interior do nordeste brasileiro e se alimenta de sangue de animais e até de seres humanos, especialmente daqueles que não frequentam a igreja, pois o sangue de quem não frequenta a igreja é mais saboroso para ele, segundo o folclore brasileiro.

As lendas afirmam que, quando galinhas param de botar ovos, cães se recusam a sair de casa e urubus começam a cercar uma residência, o Encourado está por perto.

Nesse momento, ou a pessoa foge imediatamente, ou nada pode ser feito, pois, ao contrário de outras criaturas, como vampiros, o Encourado não tem fraquezas evidentes.

2 – Boitatá

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Boitatá (Foto: Reprodução)

O Boitatá é uma cobra gigantesca com o corpo de fogo, com múltiplos olhos e uma ferocidade incompreensível. A lenda diz que olhar diretamente para os olhos do Boitatá é suficiente para deixar uma pessoa cega e enlouquecida.

Esse monstro, que parece ter saído de um conto de H.P. Lovecraft, é muito mais antigo do que qualquer conceito de horror cósmico moderno. Os povos indígenas já acreditavam no Boitatá e o retratavam como uma figura sobrenatural.

3 – Cabra Cabriola

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Cabra Cabriola (Foto: Art GMK Imagens Division)

A lenda do Cabra Cabriola é inquietante, pois se trata de uma criatura que é meio homem, meio bode, que se alimenta de pessoas vulneráveis, especialmente crianças.

Ele se esconde nas sombras do sertão nordestino, esperando o momento certo para atacar. Quando o sol se põe, ele invade casas, se aproveitando de janelas abertas ou telhados mal fechados.

O Cabra Cabriola é astuto, capaz de imitar a voz de qualquer pessoa, inclusive a de uma mãe pedindo para abrir a porta. Quando as crianças, ingênuas, vão atender, descobrem tarde demais que não é a mãe, mas o próprio monstro, que se aproxima para devorar.

Além disso, essa lenda tem raízes no folclore europeu e também remete a divindades do Oriente Médio, como Moloque, conhecido por seus sacrifícios de crianças.

Para completar o terror, ainda há uma canção que mães costumam cantar para os filhos antes de dormir. Uma música que só de ouvir, já faz o corpo tremer.

A letra é a seguinte:

“Cabra cabriola
Corre montes e vales,
Corre meninos a pares
Tamêm te comerá a ti
Se cá chegares.”

4 – Labatut

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Labatut (Foto: Reprodução)

O Labatut é uma criatura que se assemelha a um ciclope, com corpo espinhoso e dentes de elefante, é uma das mais perturbadoras criaturas do folclore brasileiro. A criatura era na verdade Pierre Labatut, um mercenário francês do século XIX, que cometeu atos de extrema violência durante a luta pela independência do Brasil.

A crueldade desse homem foi tamanha que ele acabou se tornando um monstro mítico, representando os horrores reais que causou. A lenda de Labatut mistura o sobrenatural com a realidade histórica, o que a torna ainda mais aterrorizante, já que ela carrega o peso de sofrimentos reais.

5 – Capelobo

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Capelobo (Foto: Reprodução)

O Capelobo é uma criatura metade homem, metade tamanduá, conhecida por se alimentar de pessoas. O nome tem origem indígena, onde “Lobo” significa literalmente lobo e “Cape” faz referência a osso quebrado.

Esse nome não é à toa, pois o Capelobo é famoso por quebrar e perfurar os crânios das vítimas, sugar seus miolos com uma língua bizarra, similar à do tamanduá, mas usada para devorar humanos, especialmente crianças, recém-nascidos e moradores do Pará e Maranhão.

Segundo a lenda, o Capelobo pode assumir duas formas: a de uma anta muito rápida, mais estranha que a anta comum, ou a de uma figura humanoide com patas de bode e cabeça de tamanduá.

Se alguém escutar um grito na mata de Cocais, isso indica que o Capelobo está por perto. Em caso de encontro, a única forma de derrotá-lo seria com um tiro certeiro no umbigo, onde estão seus órgãos vitais.

Caso contrário, a vítima teria seu cérebro devorado ou seria amaldiçoada, se tornando um Capelobo demoníaco, igual ao monstro que a atacou.

6 – Abúhucü

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Abúhucü (Foto: Felix Entertainmente)

Outra criatura que faz parte do folclore brasileiro é o Abúhucü, uma lenda menos conhecida, mas ainda mais assustadora. A aparência do Abúhucü lembra muito a do Capelobo, mas com um focinho mais afiado, ideal para furar a cabeça das vítimas.

Esse ser habita as árvores da floresta amazônica e é descrito como um tipo de homem mosquito que vive em grupo. As vítimas são capturadas, puxadas para o alto e devoradas nas copas das árvores.

A lenda descreve que o Abúhucü tem o hábito de atacar os indígenas que vivem na região, mas a ameaça se estende para qualquer pessoa desavisada que passe por ali.

7 – Mimirã

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Mimirã (Foto: Reprodução)

Mimirã era uma mulher do povo Macuxi, indígenas que vivem nas fronteiras do Brasil, Guiana e Venezuela. Ela foi uma mulher que, após começar a ter visões e comportamentos esquizofrênicos, foi expulsa da tribo e condenada a vagar sozinha pela floresta até sua morte.

Supostamente, seu espírito deveria assombrar a região da caverna no Monte Roraima. No entanto, a verdadeira lenda é que Mimirã se tornou uma presença assombroso para qualquer pessoa que se encontre isolada em um espaço fechado.

O conceito de ser assombrado por uma figura como ela, sem aviso, em lugares comuns da vida cotidiana, torna a história ainda mais macabra.

8 – Kurupi

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O Kurupi, considerado o deus da fertilidade na mitologia Guarani, é uma criatura aparentemente inofensiva, mas conhecida por violentar sexualmente tanto homens quanto mulheres, indígenas ou não.

Ele vive nas florestas das regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas também entra nas cidades para se alimentar do lixo e procurar suas vítimas. O Kurupi infelizmente não se limita a matar; ele causa algo ainda mais grotesco e perturbador.

A lenda faz alusão a homens que fazem mal as mulheres sexualmente ou qualquer outra pessoa, e serve como forma de conscientização do que acontece na sociedade, o que torna ela muito mais macabra.

9 – Gorjala

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Gorjala (Foto: Imagem do livro O Mais Assustador do Folclore – Monstros da Mitologia Brasileira, de Luciana Garcia)

O Gorjala, é uma lenda muito macabra, pois na verdade, ele foi um escravo que, passando fome, recorreu ao canibalismo para sobreviver. Habitante das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Esse monstro devora qualquer um que entre em seu território.

Essa criatura, se tornou então uma alegoria para a escravidão, simbolizando a violência e os traumas causados por esse período sombrio da história. A lenda fala sobre a privação extrema e os horrores da escravidão, refletindo uma realidade de desigualdade e fome que ainda afeta muitos no Brasil.

Fonte: Primeira Página

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