Evento destaca a Carta de Compromisso, com propostas para preservar e fortalecer as tradições afro-brasileiras na região
Com uma abertura marcada por ato religioso conduzido por lideranças de matriz africana — com água de cheiro, folhas sagradas e cantos em iorubá —, o Ministério da Cultura, por meio da Fundação Palmares, realizou o 1º Encontro Vozes Afro-Ancestrais do Cerrado. O evento, sediado na Fundação Cultural Palmares, em Brasília, teve como foco valorizar as tradições afro-brasileiras no Cerrado.
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Reunindo lideranças religiosas e representantes de comunidades tradicionais do Distrito Federal e entorno, o encontro criou um espaço de intercâmbio cultural e fortalecimento da identidade afro-brasileira, por meio de manifestações artísticas, diálogos e práticas espirituais.
Mesa de abertura
Em sua fala, João Jorge Rodrigues, presidente da Fundação Cultural Palmares, ressaltou a necessidade de construir caminhos de igualdade e respeito às religiões de matriz africana “Mais do que estar à frente ou em pé de igualdade, precisamos construir caminhos. Sabemos que esses caminhos não são fáceis e, muitas vezes, exigem articulações conjuntas.”
Ele também destacou a resiliência e a riqueza cultural dessas tradições “Somos o povo que criou a fé, a religião, a agricultura e tantas outras bases da humanidade. Agora, é a vez de Brasília. Nossa fé deve garantir que Brasília se torne um território livre da intolerância.”
O presidente ainda mencionou iniciativas em andamento para preservar as expressões religiosas na capital federal, como a revitalização da Praça dos Orixás (Prainha), considerada patrimônio cultural do Distrito Federal.
Luci Borges, diretora de Políticas Públicas para os Povos de Terreiro do Ministério da Igualdade Racial, também participou da mesa e ressaltou a importância da Política Nacional de Povos de Terreiro, instituída pelo Decreto nº 12.278 “O decreto traz três eixos fundamentais para a preservação dessas vozes ancestrais em todo o Brasil, especialmente no Cerrado: acesso aos direitos, combate ao racismo, inclusão produtiva e territorialidade.”
Segundo a diretora, esses pilares estão alinhados à proposta do evento, que reforça a necessidade de preservar as vozes afro-ancestrais do Cerrado.
Pai Aurélio de Odé frisou os desafios enfrentados pelos terreiros e comunidades tradicionais “Ainda encontramos muitas dificuldades quando falamos de políticas públicas que respeitem e fortaleçam nossa existência. Mas também carregamos soluções. Nossos modos de viver ensinam sustentabilidade, justiça social e o bem viver coletivo.”
Mãe Baiana enfatizou a importância do trabalho conjunto e da luta por políticas públicas “Muito obrigada por confiar em nós, por nos convidar para sentar e construir algo voltado para políticas públicas. O que apresentamos aqui hoje é fruto de um trabalho coletivo, feito com muitas mãos, e será entregue aos ministérios competentes, especialmente à ministra Margareth Menezes. Esperamos que ela leve essas propostas para outros ministérios, porque há muita demanda.”
A deputada federal Erika Kokay também esteve presente, destacando a urgência de enfrentar o racismo religioso “Nenhuma educação pode ser pensada sem ser antirracista, e nenhuma expressão cultural pode existir sem esse compromisso.”
Carta de Compromisso
Um dos momentos de maior relevância foi a leitura da Carta de Compromisso, que reúne demandas e propostas para a preservação das tradições afro-brasileiras. Resultado de meses de escuta e articulação com diversas casas de axé, a carta traz mais de 21 reivindicações, abrangendo saúde integrativa, economia solidária, empoderamento de jovens e mulheres, criação de centros culturais, combate ao racismo religioso e suporte psicossocial.
Após a leitura, lideranças presentes discutiram os pontos do documento, buscando estratégias para implementar as propostas em diferentes esferas de governo.
Encerramento
O evento foi encerrado com uma apresentação do grupo de afoxê Omó Ayó, celebrando a força e a vitalidade das tradições afro-ancestrais. A iniciativa reafirmou o compromisso de instituições, lideranças e comunidades para preservar e fortalecer as culturas de matriz africana no Cerrado, promovendo respeito, igualdade e inclusão.
Fonte: MinC