Afirmação é da professora Luciana de Oliveira Dias, que acaba de assumir a presidência da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), à frente de uma diretoria formada majoritariamente por pessoas negras e mulheres
Por João Negrão, da Editoria
O programa Almanaque Mutirum teve a honra de entrevistar a professora Luciana de Oliveira Dias, titular da Universidade Federal de Goiás (UFG), que na última quinta-feira, 16 de janeiro, tomou posse como presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).
Nós conversamos com a professora Luciana sobre como será a gestão da nova diretoria e também sobre o fato inédito de a ABA ter pela primeira vez uma diretoria formada majoritariamente por pessoas negras e mulheres.
Confira abaixo a entrevista editada em texto e o vídeo dela na íntegra, que estará também na edição do próximo dia 25, quando o Almanaque Mutirum estará de volta na TV Mutirum, canal no YouTube do Mutirum Instituto da Cultura e seus parceiros do HUB Coletivo Mutirum de Comunicação: Goiás Encanto & Prosa, TV 61 (do portal Expresso 61, de Brasília) e Rádio Web Sapicuá, de Cuiabá, que disponibilizará esta entrevista em podcast para cerca de 200 emissoras de Mato Grosso e as faixas de divisa com Pará, Tocantins, Goiás e Mato Grosso do Sul.
João Negrão – Luciana, vamos começar falando da posse da diretoria da Associação.
Luciana de Oliveira Dias – No último dia 16, quinta-feira que passou agora, de Janeiro, desse ano novinho que a gente acabou de receber, a gente teve a posse da nova Diretoria da Associação Brasileira de Antropologia, que deve exercer um mandato de dois anos, durante o biênio 2025-2026. A gente vai contar com essa nova diretoria absolutamente diversa e inovadora no contexto da Associação Brasileira de Antropologia, que deve desempenhar o seu trabalho no nosso país.
Maravilha. Eu queria aqui, Luciana, falar o nome dos outros membros da diretoria. Nós temos o vice-presidente, que é o Henyo Trindade Barretto Filho, da UnB, a nossa Universidade de Brasília. Temos o Waldemir Rosa, secretário-geral, que é da Unila, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana. A secretária adjunta é a Juliana Farias, da UERJ, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Na Tesouraria temos a Silvana de Souza Nascimento, da USP, a Universidade de São Paulo. A tesoureira adjunta é Jacqueline Moraes Teixeira, também da UnB. E temos as diretorias regionais: a diretora da região Norte é Lucybeth Camargo de Arruda, da UFOPA, Universidade Federal do Oeste do Pará; do Nordeste é a Vera Rodrigues, da UNILAB, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira; do Centro-Oeste é o Antônio Hilário Aguilera Urquiza, da UFMS, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; e Flavia Medeiros Santos, diretora da regional Sul-Sudeste, que é professora da UFSC, a Universidade Federal de Santa Catarina.
Luciana, eu queria que você falasse um pouco do programa da diretoria, sobre a plataforma de trabalho dessa nova Diretoria da ABA.
Tá certo. A ABA, que é a Associação Brasileira de Antropologia, é a associação científica no campo das humanidades mais antiga do Brasil, que faz 70 anos neste 2025. Desde 1955 que a Associação Brasileira de Antropologia vem trabalhando no sentido de produzir antropologia de qualidade no Brasil. Seu grande objetivo é produzir antropologia de excelência, é produzir ciência para esse país. Mas a antropologia tem uma especificidade muito grande que, concomitantemente a esse esforço em produzir ciência de alta qualidade, a antropologia vem buscando realizar também justiça social, reparação histórica. Os antropólogos são absolutamente comprometidos com a realização de direitos humanos. Vamos dar um exemplo: os antropólogos estão presentes até naqueles lugares que a gente nem imagina. Sempre tem um antropólogo por ali preocupado em decifrar e relatar as culturas que nos formam enquanto seres humanos. Somos seres absolutamente culturais porque estamos imersos nesse contexto de sociedade e cultura que diz exatamente aquilo que a gente. Então, o trabalho do antropólogo passa também por interpretar essas culturas, por estudar essas culturas e entender aí tecnologias sociais que sejam capazes de reverter situações de preconceito, de discriminação, de injustiça social. O antropólogo tem um trabalho absolutamente complexo nesse sentido, porque a partir da produção científica que ele desenvolve, a partir das pesquisas, dos estudos qualificados das culturas humanas, ele busca também promover uma espécie de realização da justiça social diante desses cenários tão injustos que a sociedade acaba produzindo ao longo dos anos.
Fale mais um pouco sobre o trabalho da gestão da associação.
A associação, desde a sua fundação, vem desenvolvendo trabalho muito voltado para o aprimoramento dessa produção científica no campo da antropologia e para isso ela vem buscado realizar articulações com outras instâncias da sociedade, que não somente a universidade, mas, por exemplo, a sociedade civil, governo, com entes e entidades que favoreçam a realização de direitos humanos a todos os seres humanos. Vamos falar do que a gente vai fazer na gestão, à frente da diretoria da Associação Brasileira de Antropologia. Dar continuidade a esse trabalho articulando-se com outras sociedades, com outras entidades da sociedade no sentido de realizar justiça social. A gente tem uma atuação muito forte, muito localizada, nas universidades porque a gente tem o objetivo de formar novos profissionais da Antropologia ou das Ciências Sociais de maneira ampliada. Mas realizar essa formação pensando de maneira articulada na atuação dos antropólogos na sociedade como um todo. Para isso a Associação Brasileira de Antropologia tem que estar muito bem articulada com outras associações científicas de âmbito nacional e de âmbito internacional, com entidades da sociedade civil, com movimentos sociais organizados, com entidades do governo nas suas mais variadas dimensões, para que a gente consiga de maneira articulada e coletiva transformar a sociedade, tornando-a uma sociedade mais próxima daquilo que a gente deseja, que é uma sociedade equânime, justa, igualitária, o mais livre possível de processos de preconceito e discriminação. É esse trabalho que a gente quer dar continuidade. Ao longo desses 70 anos a ABA vem desenvolvendo esse trabalho com muita excelência, mas ainda demonstrando lugares e espaços que precisam ser repensados para que essa atuação a partir da Associação seja também aprimorada, atualizada de acordo com os novos contextos socioculturais que a gente está inserido hoje como sociedade.
Você está falando tudo isso e eu estou aqui me remetendo lá na minha época de repórter, quando fiz muita reportagem sobre remanescentes de quilombos, quilombolas e também sobre a questão indígena. E aí o papel que o antropólogo tinha ali para emitir laudos para demarcações, por exemplo. Fale um pouquinho sobre essa questão mais prática para a vida do cidadão, ali na questão mais imediata, da importância do trabalho do antropólogo.
O antropólogo, na verdade, é aquele que tem uma lupa no âmbito da pesquisa que permite ver pontos da sociedade como um todo que precisam ser transformados para que a justiça social prevaleça, para que a reparação às injustiças históricas prevaleça
Isso! O antropólogo hoje no Brasil – de maneira muito generalizada -, a gente tende a entender que ele atua nas universidades como professor de Antropologia e de Ciências Sociais. Mas é muito importante ampliar essa compreensão, porque o campo de atuação do antropólogo é muito mais vasto do que isso. Há várias possibilidades de atuar hoje como antropólogo, por exemplo na emissão de laudos antropológicos que podem resultar em reconhecimentos de territórios quilombolas e indígenas como você acabou de falar, territórios de populações tradicionais. Os laudos antropológicos instrumentalizam instâncias do governo que podem resultar no reconhecimento e no registro desses territórios. Isso é muito importante. O antropólogo pode atuar também como perito, emitir documentos, realizar perícias antropológicas e apresentar documentos que podem reverter situações muito graves de violação de direitos; em situações graves envolvendo guerras ou situações extremas de violação de direitos humanos, envolvendo violência urbana. Por exemplo, o antropólogo pode atuar emitindo documentos periciais que fazem um estudo aprofundado da situação e encaminhar esses documentos para instâncias da sociedade que são responsáveis por equacionar esses problemas. O antropólogo, então, emite laudos, realiza perícias que são muito importantes para que a gente reconfigure um cenário societário ainda muito marcado por violência. O antropólogo, na verdade, é aquele que tem uma lupa no âmbito da pesquisa que permite ver pontos da sociedade como um todo que precisam ser transformados para que a justiça social prevaleça, para que a reparação às injustiças históricas prevaleça. Inclusive agora esse é um dos desafios lançados para essa nova diretoria que assume a Associação Brasileira de Antropologia: é pensar e dar encaminhamento para a profissionalização da Antropologia. A gente tem uma situação em que há que se reconhecer o valor, profissionalizar, trabalhar com o reconhecimento e profissionalização do antropólogo no Brasil, que é um campo ainda fragilizado, descoberto, que precisa avançar nesse sentido.
A propósito disso Luciana, tenho certeza que tem muitos jovens vão acessar a sua entrevista, o resultado do Enem já saiu e os estudantes começam a acessar o Sisu, buscando um curso. De repente alguém pensa assim “eu quero ser um antropólogo”. O que ele deve? Qual é a formação para chegar à Antropologia?
No Brasil a gente tem um pouco mais de uma dezena de cursos de graduação em Antropologia. Pode buscar esses cursos de graduação em Antropologia, mas a maioria dos cursos que são oferecidos são cursos de Ciências Sociais. Então, você que tá interessado em entender um pouco mais e até trabalhar com Antropologia, pode se inscrever para um curso de Ciências Sociais. O curso de Ciências Sociais no Brasil tem um tripé que o sustenta: a Ciência Política, a Sociologia e a Antropologia. Quando você ingressar na universidade e fizer opção pelo curso de Ciências Sociais você tem uma probabilidade muito grande de se envolver com a Antropologia e se tornar um antropólogo, podendo vir a ser um professor universitário, um pesquisador e que pode trabalhar com essa vasta possibilidade que eu falei agora há pouco. Como a realização de perícias, a emissão de laudos antropológicos e você vai trabalhando com uma população muito importante, porque a população brasileira é muito diversa. E em um país de base discriminatória, a maioria dessa população – na verdade que foi tornada minoria, que foi transformada em minoria, mas que na verdade é uma maioria numérica -, essa maioria dessa população é muito discriminada porque no Brasil a gente ficou muito especializado em discriminar. Então, você vai ter a oportunidade de trabalhar com populações negras, por exemplo, populações negras urbanas, você vai ter a oportunidade de trabalhar com quilombolas, você vai ter a oportunidade de trabalhar com povos indígenas, que é muito interessante. Contribuindo aí – a partir das pesquisas que você vai desenvolver – para tornar essa sociedade mais igualitária para todos os indivíduos.
A gente está falando basicamente de mercado de trabalho. E no serviço público, quais são os órgãos que necessitam de antropólogos? Funai, Fundação Palmares? Tem muita gente quer entrar para o serviço público, tem os concurseiros.
O mundo do trabalho é um atrativo à parte. Obviamente que ele precisa ser repensado com um pouco mais de seriedade e aprimorado, porque a gente tem hoje no Brasil um mundo do trabalho que não está conseguindo absorver a quantidade de profissionais que saem dos mais variados cursos e que pretendem ingressar nesse mundo do trabalho. Mas, no campo das Ciências Sociais, a gente tem algumas possibilidades. Esses órgãos públicos, todos eles na verdade, estão abrindo possibilidades de contratação de antropólogos. A universidade já é uma possibilidade muito concreta de – já é natural, vamos dizer assim – um caminho muito desejado. E esse desejo é construído já desde a graduação: “faço Ciências Sociais, quero construir a minha carreira e a minha atuação profissional dentro das Universidades públicas lecionando e pesquisando”. As Universidades hoje – a gente tece muitas críticas a elas ainda – são campos de trabalhos possíveis. É bem interessante trabalhar nas universidades pelo reconhecimento e por uma espécie de autonomia que a gente consegue conquistar atuando dentro das universidades. Mas a gente também tem esses entes e agências públicas, que também contratam antropólogos. Como, por exemplo, a Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas] como você falou, mas também o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], o ICMBio [Instituto Chico Mendes da Biodiversidade]; a gente as Fundações, todas elas, estão demandando hoje a presença de antropólogos para que realizem trabalhos bastante consistentes no seu interior, se você pensar na estrutura dos governos municipais, estaduais e o governo federal. Você tem aí, no campo da Educação, da Saúde, dos Direitos Humanos, sempre possibilidade de atuação de profissionais das Ciências Sociais e da Antropologia especificamente.
A Associação Brasileira de Antropologia está em festa, mas, sobretudo, a população negra brasileira está em festa. Porque, de fato, é uma conquista e essa conquista precisa ser revelada, precisa ser celebrada e a gente está com muito boas energias para o exercício desse trabalho que começa agora em 2025. O nosso diferencial é exatamente tornar essa Associação mais plural, mais diversa, mais representativa daquilo que a própria sociedade brasileira é
Maravilha! Vamos falar então do que a gente está doido para falar. Assim eu cheguei aqui [a entrevista foi feita numa das salas do Departamento de Antropologia da UnB] eu encontrei um grupo de estudantes africanos e perguntei para eles me confirmarem se aquele era o prédio do departamento. “Você quer ir aonde”, perguntou um deles. Eu falei que procurava a reunião da ABA. Aí eles sorriram muito e entre eles tinha uma estudante de Antropologia. Eles ficaram felizes e me externaram isso, que essa diretoria da ABA é composta majoritariamente por professores e professoras negros, antropólogos negros. Professora Luciana, conta pra gente como é que vocês conseguiram essa façanha?
Eu estava brincando com você agora há pouco: eu acho que isso é um pequeno milagre, um pequeno milagre que nós desejamos. É necessário a gente olhar para os milagres com muita seriedade, porque os milagres acontecem depois de muito caminho feito, de muito trabalho feito, de muita ação, de muita articulação realizada. A Associação Brasileira de Antropologia tem 70 anos de existência e de atuação nesse país e a gente conta com a primeira diretoria majoritariamente composta por pessoas negras antropólogas e antropólogos negros do Brasil inteiro, de Norte a Sul pessoas negras. E é a primeira vez que a gente tem uma presidente negra eleita para fazer esse trabalho durante esses próximos dois anos. Isso é histórico! E isso precisa ser documentado, registrado e apresentado para vocês como histórico, porque isso resulta, obviamente, de uma abertura da Associação para que isso acontecesse. Mas se não houvesse uma atuação engajada, um compromisso absolutamente sério por parte dos antropólogos e antropólogas negras, que de fato sempre existiram, sempre estiveram realizando Antropologia nesse país, se esses antropólogos negros não tivessem se articulado e reivindicado e demandado e construído esse momento, a gente não estaria vivendo esse dia de hoje. A Associação Brasileira de Antropologia está em festa, mas, sobretudo, a população negra brasileira está em festa. Porque, de fato, é uma conquista e essa conquista precisa ser revelada, precisa ser celebrada e a gente está com muito boas energias para o exercício desse trabalho que começa agora em 2025. O nosso diferencial é exatamente tornar essa Associação mais plural, mais diversa, mais representativa daquilo que a própria sociedade brasileira é. Veja bem: a sociedade brasileira hoje é composta por mais de 54% da sua população por pessoas negras. Por que essas pessoas não estão representadas em absolutamente todas as instâncias de tomada de decisão e de poder? Há uma injustiça histórica que precisa ser reparada, principalmente na academia.
Luciana, a lei de cotas contribuiu muito para isso também. Acredito que essa composição da diretoria também devido a um grande número de antropólogos negros que saíram nesses últimos 20 anos nas universidades, né? Estudantes negros que entraram e se formaram devido às cotas. Mas eu queria perguntar outra coisa para você – eu já fiz esse exercício. Fiz com minha amiga Lucybeth, a gente conversou muito sobre isso; fiz com os estudantes africanos enquanto caminhava para cá. Mas eu queria que você falasse, que fizesse esse mesmo exercício comigo: o que muda na Antropologia agora com esse – vamos usar aqui uma frase que já se tornou, para mim, um clichê – lugar de fala? Fala pra mim.
Falo. Mas antes eu gostaria só de destacar a importância dessa lembrança que você faz das políticas de ações afirmativas, 20 anos de políticas de ações afirmativas. Lembra que eu falava que na verdade esse movimento começa muito antes e envolve pessoas que não estão aqui agora. Não é coincidência: 20 anos depois da aplicação das políticas de ações afirmativas, exatamente quando um ciclo de formação se fecha, a gente tem então os primeiros doutores e pós-doutores, nas mais variadas áreas, prontos para ingressar no mundo do trabalho, para atuar na universidade, a gente elege a primeira presidenta negra. Isso não é coincidência. Tem todo um movimento gerado lá no bojo das ações afirmativas que faz com que a gente chegue nesse contexto que a gente vive hoje, que é um contexto absolutamente inovador porque insere no cargo máximo da Associação Brasileira de Antropologia uma antropóloga negra. Então, é nesse contexto absolutamente complexo que a gente vê as mudanças acontecendo. E as mudanças não são poucas. Você pergunta o que muda. Eu costumo falar que a gente tem pelo menos duas dimensões de mudanças acontecendo. Primeiro é uma mudança estética. É claro, faz toda a diferença você chegar aqui para entrevistar a gente e encontrar estudantes negros ali na porta. Isso era uma impossibilidade 20 anos atrás, quando essa mesma Universidade de Brasília há 20 anos contava com 1% do seu corpo discente negro. A gente tem uma mudança que é estética porque você tem a inserção de corpos negros nesses espaços. Então, essa mudança por si só já vale a pena: você tem uma diversidade se apresentando nesse espaço que é a universidade. Mas não é somente essa mudança estética que acontece. Há uma mudança ética, porque esses corpos trazem consigo saberes e fazeres que vão se colocar em diálogo e movimentação com saberes e fazeres que acontecem aqui na universidade. Então a gente está diante da possibilidade concreta do que eu costumo chamar de saberes plurais, ou de pluris saber ou de pluris epistemologias. A gente tem saberes em contato tornando muito mais vibrante e plural a própria produção de conhecimento que acontece aqui nesse espaço. Veja bem comigo o que representa um indígena entrando aqui com todos os saberes que ele tem adquiridos junto ao seu povo nesse lugar. Imagina a diversificação de saberes que a gente tem quando chegam aqui pessoas negras. E não somente pessoas negras, mas pessoas específicas, por exemplo, mulheres negras. Mulheres negras que, aliás, é a maior composição da nova diretoria que assume a ABA nesse biênio 2025- 2026. A gente acredita que essa diversidade não é só somente representativa. A gente acredita que essa diversidade transforma o lugar onde ela se institui. No caso, dentro da Antropologia. A gente pode afirmar com muita tranquilidade, muita segurança, que a Antropologia hoje, nesse ano de 2025, passados 70 anos da criação da Associação Brasileira de Antropologia, é uma Antropologia mais rica, é uma associação mais rica, porque é mais diversa, porque é mais plural, porque tem uma mudança estética, porque a gente apresenta a nossa especificidade com relação ao nosso pertencimento racial. Mas, sobretudo, porque a gente traz consigo, junto com os nossos corpos, um saber fazer que é alternativo a esse saber que ainda é marcado pelo eurocentrismo, pelo preconceito, pela exclusão, pela discriminação. Olha só a oportunidade ímpar que a gente está tendo de transformar não somente a Associação mas também a Antropologia, mas também o país e o mundo, porque o Brasil se insere numa corrente que é mundial. Mundialmente falando é impossível e não há retrocessos, não há como retroceder nesse movimento que aponta para a diversificação, pluralização, representatividade dos espaços com todas as diferenças presentes, construindo o mundo que a gente quer. Não somente o mundo que a gente quer, mas o mundo que a gente precisa, porque as mudanças são necessárias.
Registrar que estão tentando conter essas mudanças, mas os fascistas não passarão, porque eles querem retroceder. Luciana, eu quero agradecer muito a você por esta entrevista maravilhosa…
Acho que eu vou ter que complementar o que você fala agora: os fascistas não passarão, os racistas também não, e os machistas também não passarão.
Luciana, quero deixar para você fazer suas considerações finais, se despedir do nosso público e agregar alguma coisa que você considerar importante falar. Fique à vontade.
Bom, eu quero estimular você que quer vir para a Universidade a se aproximar, a conhecer um pouco mais dos cursos de Ciências Sociais e Antropologia, porque a Antropologia é esse lugar de onde a gente fala e de onde a gente trabalha que pode transformar a sua realidade, a realidade do seu grupo, do seu coletivo, do seu lugar, a realidade do mundo. Eu acredito muito na Antropologia como ferramenta de transformação do mundo. Fica o convite para vocês. Eu quero expressar aqui também um agradecimento muito especial àquelas e àqueles que vieram antes de mim. Esse movimento está acontecendo agora e eu sou a primeira presidenta negra da Associação Brasileira de Antropologia porque muito foi feito antes da minha chegada até aqui. Então eu quero expressar a minha gratidão a esse muito que foi feito até aqui na Antropologia e fora dela. Sobretudo, fora dela, porque eu fora desse campo, que me coloca no campo e que faz com que a gente, os nossos movimentos negros, que a gente tem que saudar, os nossos ancestrais também, essa movimentação da população negra que faz com que aconteçam deslocamentos importantes de indivíduos e a entrada desses indivíduos em espaços tão importantes da sociedade, como é uma associação científica, como é uma universidade. A gente vai transformando esses espaços e essa transformação nunca é individual. Ela é sempre coletiva. É por isso que eu fecho agradecendo a essa coletividade que tornou possível essa transformação…
Eu sou porque nós somos…
Sempre! Eu sou porque nós somos, exatamente!
Confira abaixo o vídeo da entrevista com a professora Luciana de Oliveira Dias:
(OBS: vídeo bruto, que será editado ao ser incorporado na edição do programa Almanaque Mutirum, do dia 25, sábado.)
2 comentários em ““A Antropologia é absolutamente comprometida com os direitos humanos””
Ótimo ,o nosso janeiro está recheados ,d e coisas boas !!!
Essa entrevista está muito bonita, parabéns ao jornalista e à professora que abre caminhos para sermos cada vez mais protagonistas da nossas histórias. Axé!