Representada pelo filho, Adélia Prado recebe Prêmio Camões no Itamaraty

A escritora mineira é a terceira mulher brasileira a conquistar o maior prêmio da literatura lusófona; entrega ocorreu por ocasião da visita do presidente de Portugal ao Brasil

A escritora brasileira Adélia Prado foi laureada, na noite desta terça-feira (18), com o Prêmio Camões 2024, a mais alta distinção literária da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A cerimônia foi realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília. A escritora mineira foi representada pelo filho, Eugênio Prado. O diploma de reconhecimento foi entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, em evento que integrou a visita de Estado do mandatário português ao Brasil.

O presidente Lula destacou em seu discurso a relevância da poesia de Adélia Prado como uma inspiração para a política e a sociedade. 

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“Adélia nos ensinou que ‘a vida é mais tempo alegre do que triste’, uma lição atual e necessária. Em tempos de crises econômicas, catástrofes climáticas, guerras e pandemias, não sucumbir ao desalento é um ato de resistência. É na desesperança, no medo e no ressentimento que viceja o ódio como projeto político. Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia. As pessoas estão no cerne de sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer ação de governo”, afirmou o presidente brasileiro.

Já o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ressaltou a importância da obra de Adélia Prado no contexto da literatura lusófona e sua contribuição para o pensamento poético contemporâneo. 

“Tive a honra de felicitá-la por este prêmio e de falar sobre o que considero um retrato singular da simbiose dessa potência mundial chamada Brasil. Sua poesia expressa um humanismo cristão singular, permeado por uma poética de interrogação, mas também de esperança. Essa mesma esperança percorre outros poetas, de Cecília Meireles a Manuel Bandeira, passando pelo primeiro Vinícius de Moraes. No entanto, o que há de extraordinário em Adélia Prado é o fato de que, mesmo com as profundas transformações sociais e religiosas pelas quais o Brasil passou, sua poesia permaneceu sempre atual – e mais do que isso, pioneira”, declarou.

Presente na solenidade, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, celebrou a premiação como uma conquista da literatura e da cultura brasileira, ressaltando o impacto da obra de Adélia Prado e a importância de sua voz feminina no cenário literário lusófono.

“Este prêmio é um tributo à rica tradição literária do Brasil e à capacidade das escritoras brasileiras de capturar a nossa identidade cultural, as nossas histórias, memórias e criatividade”, destacou a ministra.

Durante a cerimônia de entrega do Prêmio Camões, Eugênio Prado, filho da poetisa mineira Adélia Prado, discursou em nome da mãe, expressando sua gratidão pela homenagem. Ele leu um agradecimento escrito pela escritora, na qual Adélia exaltou a importância da poesia como um reflexo do valor da língua portuguesa e da compreensão humana. 

“A celebração da poesia é, e sempre será, um sinal de que um povo preserva o tesouro inestimável de sua língua”, escreveu. A poetisa também fez referência a Luís de Camões, enaltecendo seu legado e a força da literatura na construção da identidade cultural. “Vejo este prêmio, sobretudo, como uma celebração permanente do próprio Luís de Camões, que, com engenho e arte, elevou a língua portuguesa a um grau de perfeição inigualável”, escreveu. 

O presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Marco Lucchesi, também comentou a relevância do reconhecimento.

“A Biblioteca Nacional do Brasil cumpre seu papel de observatório da memória brasileira e da vida presente. O Prêmio Camões concedido a Adélia Prado, um dos nomes mais altos da poesia brasileira, celebra este olhar difuso sobre a nossa cultura. Adélia traduz o coração do Brasil profundo, seu olhar cotidiano e metafísico, límpido e plural. Drummond descobriu Adélia e, a partir dela, o Brasil descobriu uma parte essencial de si mesmo”, disse.

Prêmio Camões

Criado em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Prêmio Camões é concedido anualmente a escritores cuja obra tenha contribuído de forma significativa para o patrimônio cultural da língua portuguesa. Com um valor de 100 mil euros, financiado igualmente pelos dois países, o prêmio destaca autores pelo conjunto de sua produção literária.

O diploma entregue aos agraciados traz o nome de todos os países de língua portuguesa e é assinado pelos chefes de Estado do Brasil e de Portugal. Entre os vencedores, há escritores do Brasil, Portugal, Moçambique, Angola e Cabo Verde. Na 36ª edição, a homenageada foi a escritora mineira Adélia Prado.

Em 2023, a ministra Margareth Menezes esteve presente na cerimônia de entrega do Prêmio Camões a Chico Buarque. O evento ocorreu em Portugal, no Palácio de Queluz, como parte da programação da XIII Cimeira Luso-Brasileira.

Adélia Prado

Nascida em 1935, na cidade de Divinópolis, Minas Gerais, Adélia Prado é licenciada em Filosofia e iniciou sua carreira literária com o apoio de Carlos Drummond de Andrade. Seu primeiro livro, Bagagem (1976), chamou a atenção pela originalidade e pela força de sua voz poética. Ao longo das décadas, construiu uma obra marcada pelo lirismo, pela reflexão filosófica e por um olhar sensível sobre o cotidiano. Sua trajetória literária inclui prêmios importantes, como o Jabuti, e um reconhecimento crescente em toda a comunidade lusófona.

Jantar

Após a premiação, também no Itamaraty, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, participou de jantar oferecido pelo presidente Lula e pela primeira-dama, Janja da Silva, ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

Também estiveram presentes ministros de estado, parlamentares e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Fonte: MinC

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